
Depois da revelação de que Luis Inácio foi diagnosticado com câncer de laringe, não demorou muito para que os humoristas e militantes virtuais de plantão colocassem suas piadas toscas para fora. Lula está fazendo seu tratamento no Sírio Libanês, um dos mais requintados e sofisticados hospitais do Brasil. Um hospital considerado de elite. Logo a piadinha óbvia surgiu: por que nosso adorável, e considerado quase que um herói, ex-presidente, que veio da massa popular, não faz seu tratamento pelo mesmo sistema de saúde que o povo que o elegeu faz, o SUS (Sistema Único de Saúde)? Não demorou, graças às redes sociais, para que a piadinha se transformasse numa campanha. Borbulham, agora na internet, um sem-fim de imagens que mandam o ex-presidente fazer seu tratamento no SUS. Mas mal há nisso? O que essa piada (tosca) tem demais?
A campanha, que já está mobilizando uma multidão de ignorant… ops brasileiros, revela (de novo) a hipocrisia desse povo. Se sua mãe, ou um parente muito querido, está com câncer e você tem a opção de tratá-la pelo SUS ou num hospital de ponta, qual das duas opções vocês escolheria? Não vou responder, porque a resposta vocês já têm. Exigir de Lula algo que nem nós faríamos se tivéssemos em seu lugar é hipocrisia. Lula está usando os recursos que tem para salvar sua vida, nada mais natural para se esperar de alguém. Claro que não deixo de ver a campanha pelo seu lado positivo de (tentar) conscientizar os políticos e funcionários do alto escalão para a melhora de nosso sistema de saúde (que é terrivelmente precário); todo funcionário público deve(ria) usufruir dos serviços oferecidos à população (afinal, eles não são melhores do que ninguém pelo simples fato de ocuparem um cargo público). Mas não parece ser essa a mensagem da campanha. Ela dá a entender que todos querem ver o excelentíssimo senhor ex-presidente Luis Inácio agonizar junto com o povo, numa espécie de morbidez coletiva. Isso é vergonhoso. Não gosto de Lula, um político que sempre andou em conluio com a corrupção, que foi um populista e manipulador da frágil mentalidade brasileira, mas não desejo a ele, e nem a ninguém, um sofrimento desnecessário. Espero que ele se recupere e tenha sua saúde restabelecida. Não é uma militância de sofá, engordando na frente do computador e não botando a cara na rua, que vamos a mudar a situação da saúde, da educação, ou de qualquer outra área que precise de mudança nesse país. Mas já ia me esquecendo do importante detalhe de como o brasileiro é preguiçoso pra essas coisas. Todavia a internet está aí, com sua “interatividade democrática da internet [que] é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância.”