30 de janeiro de 2019

Minha primeira Meia Maratona


Resolvi deixar registrado aqui no BLOG, um evento que participei e gostei muito: a Meia Maratona de Gramado (21km), no dia 20/01/2019.

Fiz a inscrição em setembro ou outubro (não lembro bem) e paguei R$ 90,00 cada (inscrevi eu e o Rafa). Com o intuito de ser mais um desafio pros próximos meses, já que no último ano eu tinha participado de corridas de 10 e 15km, resolvi aumentar a quilometragem.
O Rafael já correu 2 Maratonas (42km) na vida, mas isso há muitos anos, então ele não gostou muito da ideia de correr a Meia porque sabia que os treinos exigiriam mais, mas como já tinha inscrito ele, ele acabou ''assimilando'' a ideia. Reclamou bastante por meses kkkk (porque realmente o treino de corrida era longo e deixava ele quebrado pro outro dia).

Sempre prefiro a preparação para as coisas que eu me envolvo, do que o evento em si, tanto em viagens, competições ou provas, e a  preparação pra meia maratona não foi diferente, porém não foi fácil conciliar os treinos de musculação e jiu- jitsu com as corridas longas.

Isso tudo pra quem trabalha 8h por dia e tem as tarefas de casa é bem difícil. Sem contar que em dezembro procuramos uma nutricionista esportiva, e acabei me envolvendo em mais uma função: preparação de marmitas kkkk mas isso é assunto pra outro post.

Pra otimizar o tempo, comecei a ir da minha casa pro trabalho correndo uma vez na semana (cerca de 13km), pra isso dar certo um dia antes trazia as roupas para o banho (tem um chuveiro no serviço), além das marmitas pro dia posterior já que na corrida eu vinha apenas com o celular na cintura (pochete) marcando a quilometragem, um documento e a chave de casa. Desviar dos carros e pedestres, lidar com o sol, buracos e semáforos me preparou (um pouco) pra prova que contou com trechos bem difíceis.

E assim comecei a preparação pra aumentar minha resistência, já que as ultimas provas de 15km eu tinha acabado MORTA. Morta mesmo, sem condições físicas e psicológicas de continuar, exausta e com leve dor nos joelhos.
Então esses 6km residuais me deixavam muito apreensiva, porque minha maior marca tinha sido os 15. Nada a mais. Resistência física eu tinha, bastava saber se minha mente ia conseguir aguentar os outros 6km sem desistir.

Também sabia que o treinamento pra Meia era correr o máximo de 18km (o que no fim não fiz, meu máximo ficou nos 15km mesmo por falta de tempo).
A semana da prova chegou e eu peguei leve nos treinos de jiu-jitsu, dando ênfase pros treinos de musculação.
No sábado próximo ao meio dia fomos pra Gramado (cerca de 2h de Porto Alegre): mala, cuia e o gato. Aluguei uma cabana pelo bookking.com (lindíssima super recomendo, vou deixar o link no final). Chegamos na cidade no meio da tarde e fomos direto no local pra pegar os kits: de baixo d'água. Estava chovendo muito e muito frio! Fiquei assustada, porque não levei roupas pra frio (afinal estávamos em janeiro), e em Porto Alegre fazia muito calor quando saímos. Mas a serra é completamente diferente da capital, e passei frio! Os três dias que ficamos lá fez muito frio e choveu todos os dias.

No kit veio além da camiseta, uma viseira, o chip e placa de identificação, uma barra de chocolate e um guia gastronômico com descontos em restaurantes da cidade. Sim! Gramado é a cidade dos chocolates! E a maior atração de lá além do frio são as comidas! Mas os dois vegetarianos de dieta estavam lá pra correr, e sem roupa o suficiente pra se aquecer.
Guardamos os chocolates (que depois demos de presente pois não está previsto em nossa dieta) junto com o pão caseiro e geleia que o dono da cabana nos recebeu (SIM, PURA TENTAÇÃO) estar na Serra Gaúcha com frio e ser recebidos com um pão caseiro QUENTINHO hahahah e não comer foi parte do treinamento que satanás colocou pra trabalharmos o psicológico pra prova.
A linda cabana de madeira tinha aquecedor (pra nossa alegria) muitas cobertas e toalhas quentinhas. Toda de madeira e vidro que dava pra um cenário espetacular na natureza, onde galinhas, perus e pássaros faziam a sonoplastia do local.




No sábado então apenas pegamos os kits e fomos pra cabana, já que tínhamos que acordar bem cedo no outro dia e correr os 21km. Deixamos tudo pronto, fizemos as refeições normais da dieta e resolvemos que no domingo após a prova faríamos uma refeição livre: fondue.
Está prevista 1 refeição livre por semana, mas por orientação da própria nutricionista tentamos evitá-la ao máximo. Com 30 dias da dieta então resolvemos fazer a primeira. Já que correríamos uma quilometragem tão alta e a cidade estampava comida em todas as esquinas.
Então a morta de fome aqui estava mais empolgada com a comida do que com a prova hahahaha e confesso que a refeição livre me confortava em alguns trechos difíceis da corrida.

Ao som do galo e do despertador, acordamos as 7h já que a cabana era bem próxima ao local da largada, comi 1 banana (costumo fazer corridas em jejum, mas dessa vez comi uma banana só por segurança devido a alta km). Rafael tomou café normal. Fomos pro lago Carniel debaixo de chuva (chovia fino mas constante) e antes de iniciar a corrida já estávamos ensopados. 

Além da meia maratona, havia também quem escolheu a modalidade 7,5km. Então os 7,5km primeiros quilômetros foram no asfalto pra TODOS. Bem desse jeito:

Chuva, cerração..uma neblina que mal se enxergava os trechos.


Apesar do frio nos primeiros quilômetros, a largada foi bem legal.
Na minha humilde opinião, todos os eventos esportivos são bem legais, a vibe de estar todo mundo ''na mesma barca'' correndo pelo simples prazer que a corrida te dá é energizante. 
Cada corredor com sua história.
Idosos, ex-gordos, jovens, atletas, amantes da corrida, aventureiros, pessoas com limitações físicas..independente do motivo que levou todos estarem ali naquele momento,  já eram vencedores na vida!
Lidar com o físico e psicológico em uma corrida longa é tarefa para pessoas determinadas.



A foto acima era próxima ao quilômetro 6,  eu ainda estava limpinha, e lembro desse fotógrafo posicionado no meio da avenida, tentando capturar em cada atleta o sentimento que aquele momento estava proporcionando. Aí eu e o Rafa ainda corríamos juntos, combinamos de fazer toda a corrida juntos (mas isso não aconteceu depois, segue relato).

A partir do quilômetro  8 (aí o pessoal dos 7,5km já tinha terminado a prova) a seta do percurso indicava uma trilha pro meio do mato. E os próximos 5km foram de barro, tombos, cachoeiras e pedras.
Nesses 5km meu ritmo caiu muito porque eu simplesmente não conseguia correr. Chovia ha dias na cidade e o barro e pedras estavam muito escorregadias, fazendo com que quase todos os atletas caíssem no chão.
Eu não caí nenhuma vez (milagre) mas escorreguei feio muitas. Vi o Rafael caindo feio de bunda no chão e levantando, e pessoas se machucando e desistindo da prova.
Foi minha primeira corrida em trilha e eu tava muito insegura porque o trecho era bem difícil, mas deu tudo certo.









A foto de cima foi o fim da trilha. Uffa! Que alívio! Depois desse caminho de madeira ( + - km 13), começou um estradão de chão batido com muitas lombas. Subidas e descidas. E por incrível que pareça eu simplesmente desacelero em descidas.
Pra manter o equilíbrio e não ter lesões nos joelhos, acabo tracionando mais a pisada quando tem descida, e assim vi muitas mulheres passando por mim no estradão nesse strechos de lomba. Porém em subidas ninguém me ganha, e eu passava elas novamente. 
Consegui pegar um bom condicionamento em subidas e manter o ritmo alto depois do fim da subida, então aí tive um ganho das demais.
Por mais que meu intuito não fosse pegar pódio e sim conseguir fazer todo o trecho sem falecer, ver aquelas tias passando por mim só nas descidas me deu uma ''gana'' e simplesmente não aceitei a derrota.
Não adianta, sou competitiva nata. Olhei pro Rafael e sem esboçar uma palavra me despedi com o olhar (esperava que ele tinha conseguido captar a mensagem), e fui lá passar a mulherada. Uma a uma.

Nunca traçava metas muito longas: olhava pra mulher da frente e pensava: tenho que passar ela e não deixar que ela retome, tomar o máximo de distância possível pra ela não me passar de volta.
Assim eu fiz com umas 11 mulheres. Uma a uma.
Mantendo meu pace e a estratégia de dar o gás nas lombas.
Acabou o estradão e começou o asfalto novamente, passei muitos homens, o Rafael eu já perdera de vista há tempo.
Não tinha noção de que quilômetro eu estava, os postos de água foram escassos (foram 3 no total dos 21km), mas a chuva fina foi minha aliada, ela refrescava e fazia a temperatura corporal não subir tanto. Eu pensava: deu Roberta, só mantém assim, não precisa dar gás mais, mantém assim ate´o final que está ótimo.




Quando achei que o asfalto tinha acabado começa outro estradão, subidas e pedras. A placa indicava km 19 e eu pensei: ''ta falta pouco agora. Mantém, mantém''.

Nesse trecho passei por mais umas 4 mulheres. Uma a uma.
Essa foto debaixo passei por aquela mulher lá debaixo (que foi bem difícil) já estava exausta e as vezes pensamentos do tipo vinham: "Deixa Roberta, não tem necessidade, deixa ela na frente..'''
Mas eram rebatidos por outros: "Não, faltam 2km, depois se tu quiser ficar deitada 2 dias tu fica, passa eles agora".
E passei.
Ela e o senhor que saíram nessa foto.
Fiquei horrorosa nessa foto. Mas escolhi ela por demonstrar todo o sofrimento que eu estava, num dos trechos mais difíceis.



 



1km antes da chegada restava apenas uma mulher na minha frente e eu decidi tentar ultrapassá-la.

Mas ela estava acompanhada por dois homens, um que julgo ser o esposo, e outro amigo (que usava a mesma camisa dela - de um grupo de corrida ). Comecei a correr junto deles e como uma ameaça os homens começaram a gritar pra ela ''VAMOS SIMONE, VAMOS!''.

E a Simone começou a fazer uma grande força pra não perder a vantagem que estava.
E atrás da Simone eu seguia, esperando um deslize dela, ou um gás meu pra ultrapassá-la e manter.
A Simone olhava pra trás a cada minuto, e o amigo dela (do grupo de corrida) corria com um cachorro e gritava "Acelera Simone, acelera". Já sentindo que eu estava me aproximando muito.
Não conseguia enxergar a chegada, mas ouvia o microfone do locutor de longe e imagina que estava perto. Foi que pra minha felicidade outra lomba surgiu e a Roberta disparou na frente da Simone.
Depois da lomba, simplesmente ceguei. Corri o máximo que pude até que enxerguei o pórtico da chegada. 
E o locutor grita ''Vem chegando mais uma atleta, é a Roberta Amaral, completando a prova de 21km, toda sujinha a Roberta". E dei risada com o ''toda sujinha'', porque eu não tinha noção de como era meu estado. Mas imaginava...




Em 2:30h terminei os 21km, e apesar de ter calculado fazer em 2:10h, os 20 minutos que me prenderam certamente foi na trilha que me pegou inexperiente.
De qualquer forma, não foi um tempo formidável, mas tive certeza que dei meu melhor e a sensação de ter me esforçado e ter vencido - não aquelas mulher- mas sim a batalha de todo o trecho e meus pensamentos que a todo momento queriam que eu desistisse.

Peguei uma água, um açaí e fui esperar o Rafael (que chegou 10 minutos depois de mim).
Fui ver se ele estava bravo comigo por eu ter abandonado ele na corrida, mas ele disse que não, que eu fiz o que tinha que ser feito e ficou super feliz com meu tempo.

As primeiras colocadas fecharam a prova em 2h:05. Tempo bem distante do meu, mesmo assim garanti o 3º lugar na minha categoria etária 30-34 anos, o que me deixou bem feliz, já que foi minha primeira meia maratona.




A tarde fomos comer o tal fondue (que não foi tão bom quanto esperávamos), mas que rendeu duas barrigas cheias e uma soneca a tarde.
Depois do fondue as refeições voltaram às previstas, pois somos disciplinados ;)

Peguei o dia seguinte de folga (segunda)  pra voltarmos tranquilos dirigindo e não estava tão dolorida quanto esperava estar.
Inclusive retornei aos treinos sem problemas na terça.

E foi assim que me despedi de Gramado: com a sensação de que fiz o que queria fazer e dei meu melhor.
Venci mais uma batalha contra meus próprios pensamentos, e vi que fui capaz.
Nada é impossível quando se é perseverante.
Nada.
Quando lançaram as fotos no ar e pude rever cada trecho fiquei emocionada. Que experiência incrível.

Não vejo a hora da próxima!


CABANA:

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